terça-feira, julho 25, 2006

Homem morreu sem nome (Parte II)

Homem viveu uma vida pública no anonimato, parido por mãe desconhecida e adoptado pela SA da cidade que o ajudou a morrer. Nasceu, cresceu e acabou, durante 70 anos - pensava ele. Tinha a firme convicção de ser um homem como todos os outros e que, quando morresse, viajaria para outro mundo, onde as recordações não teriam lugar.
Acreditava no deus que criara, também ele sem nome, apelidado de Deus, porque não concebia o amor sem a partilha do bom e do mau. Deus tinha de sofrer e gozar como ele. Entre eles não havia espaço para privilégios ou hierarquias, tratavam-se de igual para igual, como dois irmãos gémeos, natos em dias diferentes. Um sem o outro era nada!
Homem vivia a uns cinquenta palmos do chão, que diariamente subia e descia para saciar o desejo de ver gente, de ser reconhecido ou confundido com alguém. Homem sonhava em ser tratado com nome de pessoa (pois até aos animais atribuem nome!). Aprendeu a brincar ao "faz de conta" com a mesma devoção dos que experimentam o jogo do "sério".

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais sementes para uma colheita abundante. Que a chama inspiradora do teu pensamento não se apague.

Tober disse...

O lugar é muito interessante ou não fosse a melhor zona do país!!!